sexta-feira, 23 de julho de 2010

Lado de Fora do Mundo

(Imagem Gritos en Silêncio)


O sol nunca nasce para todos.
Não nasce para as crianças negligenciadas, maltratadas, esfomeadas de pão e de amor. Exploradas, traficadas, abusadas, abandonadas, abortadas. Não nasce para os idosos abandonados, roubados, maltratados, violentados. Para os pobres cada vez mais explorados, mais vilipendiados.
Há porcarias de vida deitadas num quarto escuro. Outras amontoadas num canto sombrio no fundo do quintal. Há delas esquecidas num fosso profundo, sem verem a luz do dia, nem qualquer claridade da noite.
Há mal que espreita, ronda, cerca, atola. Há mal a fazer das suas, mergulhando em amargura tantas mulheres inocentes que, depois de tanto tempo e lutas, continuam a ser oprimidas, exploradas, abusadas… traficadas. Há porcarias de vida deitadas num quarto escuro. E muitas são imundícies de quem chafurda num chiqueiro chique. Quando é a irracionalidade que comanda, todos os sonhos se esfumam, se asfixiam, transviados, mutilados, nas voltas de uma corrente, que prende, aperta, sufoca.
Quando chega uma desgraça, traz sempre companhia: vem sempre carregada com uma mala de roupa suja. É álcool; é droga; é violência. Conflitos geracionais. Violência nas escolas, violência doméstica… Corrupção; traições. Crimes contra a humanidade, contra a integridade física e emocional do homem. Tudo chagas sociais. Em putrefacção. Lixo. E há muito verme que se sustenta de toda essa sujeira. E que, por isso, tudo faz para que esta se mantenha; até para que se estenda como uma epidemia.

É preciso tirar do sono a natureza, agitar o sol, abanar as estrelas, gritar ao vento: que há gente a apodrecer. Têm de se fazer ouvir gritos de palavras sonantes, chocantes, bramindo como chicotes, que estalem e façam doer. É preciso um verbo forte, para ver se o mundo acorda desta cultura de morte. Não tem coração quem explora, rouba, viola, mutila e assassina um outro igual a si; ou mais frágil; ou a que tem o dever de cuidar. Onde mora o espírito de fraternidade, que promove a liberdade e a igualdade de direitos e de dignidade de todos os seres humanos? É preciso gritar!

Mas muitos dos gritos acabam por secar em gargantas cortadas. Afogam-se vozes amordaçadas. Voam pensamentos em calabouços de lamentos. Quedam-se, sem forças, as mãos. E os pés pesam no chão. E são braços que não abraçam o mundo. Pernas que vestem cansaços. Danças diárias de agitação, de confusão, de medo, de solidão, de minutos contados, esmagados. Tropeços em arame farpado. Bocados de lua mastigados para calar a fome. Retalhos de aflição. Pedaços de ilusão. Aparências. Fingimento. Mas mesmo que se finja, nunca se finge bem. Só mal. Tanto mal. Tanta maldade. Tanta dor. Tanto desamor. Há um lado de fora do mundo, em que o nevoeiro está sempre denso. O sol nunca nasce para todos.

M. Fa. R.
in:EscreVIvendo

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mas o que é a Exclusão Social?


Quando falamos em Exclusão Social facilmente a ligamos a um processo que coloca indivíduos e ou grupos sociais à margem da sociedade. Mas este conceito é complexo, multidimensional, ousado e polémico.

A exclusão social configura-se como um fenómeno multidimensional, na medida em que não é produto de um só factor, mas coexistem, dentro da exclusão, fenómenos sociais diferenciados, tais como o desemprego, a marginalidade, a discriminação, a pobreza, o estigma…

A pobreza será, porventura, a forma mais visível de exclusão, na medida em que, por falta de recursos, o pobre é excluído de sistemas sociais básicos nos domínios do social, económico, institucional e territorial, e às referências simbólicas. Mas a exclusão social abrange formas de privação não material, encontrando-se muito para além da falta de recursos económicos.

A Exclusão Social é, essencialmente, uma situação de falta de acesso às oportunidades oferecidas pela sociedade aos seus membros. Dá-se através de rupturas consecutivas com a sociedade nas relações afectivas, familiares, de amizade e com o mercado de trabalho. Pode implicar acentuada privação de recursos materiais e sociais que levam à ausência de cidadania, impedindo a participação plena na sociedade, aos seus diferentes níveis – ambiental, cultural, económico, político e social; ou pode não permitir usufruir de um nível de vida tido por aceitável pela sociedade em que se vive.

A exclusão social contemporânea apresenta-se diferente das formas anteriormente existentes de descriminação ou mesmo de segregação, ao parecer criar indivíduos desnecessários ao mundo laboral, em face das poucas perspectivas de diminuição do desemprego, sugerindo não haver possibilidade de inserção. A vida nas sociedades capitalistas vem-se organizando segundo modelos altamente competitivos que excluem os menos capazes devido à idade, à instrução, à etnia, ao sexo ou à saúde. Também, a organização e o funcionamento dos sistemas e instituições parecem alhear-se da realidade, faltando-lhes equidade na oferta de oportunidades para todos.

A Exclusão Social é, assim, um facto e um fenómeno social, com expressão crescente na nossa sociedade actual, como forte referência de grandes transformações sociais decorrentes do processo de globalização, o qual desenvolve a exclusão social ao acentuar desigualdades e concorrer para maior instabilidade das relações familiares, sociais e laborais; alteração de valores fundamentais; vulgarização de comportamentos de risco; materialismo consumista; imigração, entre outros, limitando o acesso a direitos sociais e civis e acabando por isolar socialmente grande número de indivíduos e grupos.

Não é, portanto, um fenómeno redutível à ausência de rendimento. No entanto, encontra neste factor, hoje em dia, uma grande expressão, no que se traduz numa pobreza envergonhada, em que as pessoas, para não se sentirem excluídas, optam por cortar nos bens de primeira necessidade, começando pela alimentação, canalizando os insuficientes rendimentos, por exemplo para o pagamento do carro e da casa, a fim de manterem as aparências.

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