Havia um homem rico que tinha lido nas sagradas escrituras que a riqueza era um dom de Deus; e lera também, numa outra passagem, que para além de um dom de Deus, a riqueza era o prémio que Deus concedia àqueles que lutavam por ela.
O homem rico sabia que estava com Deus; a prova era a sua riqueza!
Mas todos os dias, ao fazer o exame de consciência, descobria que aqui e ali tinha perdido oportunidade de a aumentar ainda mais; e penitenciava-se: pedia sentidamente perdão a Deus por não ter aproveitado quanto podia os dons que o Altíssimo lhe podia dar! E todos os dias fazia como propósito para o dia seguinte, aumentar o seu tesouro!
O homem rico, naturalmente, não gostava de pobres. a razão era simples: se eram pobres, é porque não aproveitavam os dons de Deus.
E todos os dias o homem rico, cumprindo os seus propósitos de consciência(!), pagando pouco aqui, exigindo mais além, negociando habilmente direitos e deveres,
... deixava os pobres um pouco mais pobres.
O homem rico não gostava de pobres; mas usava-os para aumentar a sua riqueza e a boa consciência diante de Deus!
Claro que o homem rico nunca lia o resto das palavras sagradas do mesmo santo Livro, onde também se dizia que a riqueza era um dom de Deus para todos os homens, e que só era verdadeiramente rico quem a partilhava.
Ou talvez as lesse;
... mas com os olhos, coração e ouvidos fechados...
...não fosse entendê-las e converter-se...
(In: Vinho Novo em Odres Novos, Temas de Reflexão, Cáritas Diocesana de Coimbra)