Vem aí o Natal.
Dezembro, mês do frio… muito frio!
A cada dia que passa, a tristeza e a revolta invadem-me mais a alma, são o meu pão de cada dia. Imagino as mesas postas, com toalhas alegres e coloridas, cheias de doces, filhoses e outros fritos polvilhados de açúcar e canela. Mesas fartas de saborosos petiscos e carnes variadas. Crianças a correrem pela casa, com os sorrisos alegres de quem nada lhes falta. Elas sabem que as prendas já estão à sua espera, dentro dos embrulhos atados com os laços prateados e dourados. Em cada lareira crepita um lume aconchegante que aquece lares e corações.
E eu… eu passo por um período difícil na minha vida, que nunca pensei possível de me vir a acontecer. Sinto-me impotente para sair deste mundo cada vez mais ruinoso, à beirinha de cair num poço sem fundo. Já perdi tudo o que era possível perder, até a dignidade.
Eu também tive uma família na qual punha todo o meu orgulho. Linda, harmoniosa, que dava gosto de se ver, até ao dia em que a adversidade me bateu à porta e me foi, aos poucos, deixando na rua da amargura.
Vi o sol a desaparecer do meu dia e este precipitar-se numa noite sem fim, quando os primeiros raios da crise deram o seu sinal, numa casa onde nunca tinha faltado nada. E tudo o que tinha vindo a construir, com todo o empenho, se foi desmoronando como um castelo de cartas.
Os meus fantasmas atormentam-me continuamente. Foi o meu desemprego inesperado e algum tempo depois a falência da pequena empresa da família.
Como é que se pagavam as prestações dos carros, da casa, da mobília? Tudo teve que ser vendido, por muito menos de metade do preço de compra original, para pagar as dívidas, e não chegou. O cartão de crédito foi gasto até ao limite. Em vez de uma casa, passou a ser um quarto alugado para dois adultos e duas crianças. As crianças começaram a ir muitas vezes para a escola sem pequeno-almoço e sem nada para o lanche, quando não sobrava nada para lhes dar de comer. E aconteceu a ruptura familiar, pois “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. E as crianças foram levadas para uma Instituição porque estavam em risco.
Dizem que uma grande dor sozinha mata menos do que muitas mais pequenas. Não sei, mas talvez... porque as facadas que me têm sido sucessivamente espetadas, me levaram a ir definhando lentamente até que, um dia destes, tudo se poderá vir a consumar definitivamente, por aí, numa qualquer sarjeta.
Agora só a miséria mora comigo, ou eu com ela. Eu sou este corpo à espera de uma qualquer cama ou canto onde afogue a pobreza, onde esqueça as cores gélidas de um frio que se me entranhou nas carnes já decepadas de um espírito que um dia foi luminoso, para ser, em cada dia, protagonista num espectáculo da fome.
E é sempre a mesma coisa todos os anos por esta altura. Lembra-se muito os pobres, dá-se umas esmolas aos pobrezinhos, uns caldos, umas sopas de Natal e depois cada um vai à sua vida até ao ano seguinte, porque já descarregaram a consciência. Como se o pobre só comesse uma vez por ano! Será isto espírito de Natal?
Eu sempre ouvi dizer que Natal é quando o Homem quiser. Mas se calhar, é só mesmo quando o Homem quiser!
Por isso é que os que tem o grande poder, capaz de reverter as condições das pessoas como eu, de vez em quando juntam-se para trocarem impressões sobre assuntos relacionados com pobreza… mas ficam-se pelos discursos e pelas jantaradas obscenas onde isso se discute, com os media a dar cobertura.
Queria que essa comida lhes soubesse a podre e a vomitassem em vez das palavras gastas!
Neste Natal, queria que a pobreza lhes entrasse por todos os orifícios do corpo... por todos os poros da pele.
Talvez que assim tivessem a real percepção do que é a pobreza... e compreendessem um pouco da verdadeira dimensão do Natal.
Dezembro, mês do frio… muito frio!
A cada dia que passa, a tristeza e a revolta invadem-me mais a alma, são o meu pão de cada dia. Imagino as mesas postas, com toalhas alegres e coloridas, cheias de doces, filhoses e outros fritos polvilhados de açúcar e canela. Mesas fartas de saborosos petiscos e carnes variadas. Crianças a correrem pela casa, com os sorrisos alegres de quem nada lhes falta. Elas sabem que as prendas já estão à sua espera, dentro dos embrulhos atados com os laços prateados e dourados. Em cada lareira crepita um lume aconchegante que aquece lares e corações.
E eu… eu passo por um período difícil na minha vida, que nunca pensei possível de me vir a acontecer. Sinto-me impotente para sair deste mundo cada vez mais ruinoso, à beirinha de cair num poço sem fundo. Já perdi tudo o que era possível perder, até a dignidade.
Eu também tive uma família na qual punha todo o meu orgulho. Linda, harmoniosa, que dava gosto de se ver, até ao dia em que a adversidade me bateu à porta e me foi, aos poucos, deixando na rua da amargura.
Vi o sol a desaparecer do meu dia e este precipitar-se numa noite sem fim, quando os primeiros raios da crise deram o seu sinal, numa casa onde nunca tinha faltado nada. E tudo o que tinha vindo a construir, com todo o empenho, se foi desmoronando como um castelo de cartas.
Os meus fantasmas atormentam-me continuamente. Foi o meu desemprego inesperado e algum tempo depois a falência da pequena empresa da família.
Como é que se pagavam as prestações dos carros, da casa, da mobília? Tudo teve que ser vendido, por muito menos de metade do preço de compra original, para pagar as dívidas, e não chegou. O cartão de crédito foi gasto até ao limite. Em vez de uma casa, passou a ser um quarto alugado para dois adultos e duas crianças. As crianças começaram a ir muitas vezes para a escola sem pequeno-almoço e sem nada para o lanche, quando não sobrava nada para lhes dar de comer. E aconteceu a ruptura familiar, pois “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. E as crianças foram levadas para uma Instituição porque estavam em risco.
Dizem que uma grande dor sozinha mata menos do que muitas mais pequenas. Não sei, mas talvez... porque as facadas que me têm sido sucessivamente espetadas, me levaram a ir definhando lentamente até que, um dia destes, tudo se poderá vir a consumar definitivamente, por aí, numa qualquer sarjeta.
Agora só a miséria mora comigo, ou eu com ela. Eu sou este corpo à espera de uma qualquer cama ou canto onde afogue a pobreza, onde esqueça as cores gélidas de um frio que se me entranhou nas carnes já decepadas de um espírito que um dia foi luminoso, para ser, em cada dia, protagonista num espectáculo da fome.
E é sempre a mesma coisa todos os anos por esta altura. Lembra-se muito os pobres, dá-se umas esmolas aos pobrezinhos, uns caldos, umas sopas de Natal e depois cada um vai à sua vida até ao ano seguinte, porque já descarregaram a consciência. Como se o pobre só comesse uma vez por ano! Será isto espírito de Natal?
Eu sempre ouvi dizer que Natal é quando o Homem quiser. Mas se calhar, é só mesmo quando o Homem quiser!
Por isso é que os que tem o grande poder, capaz de reverter as condições das pessoas como eu, de vez em quando juntam-se para trocarem impressões sobre assuntos relacionados com pobreza… mas ficam-se pelos discursos e pelas jantaradas obscenas onde isso se discute, com os media a dar cobertura.
Queria que essa comida lhes soubesse a podre e a vomitassem em vez das palavras gastas!
Neste Natal, queria que a pobreza lhes entrasse por todos os orifícios do corpo... por todos os poros da pele.
Talvez que assim tivessem a real percepção do que é a pobreza... e compreendessem um pouco da verdadeira dimensão do Natal.
(M. Fa. R.)
15 Comments:
Maf_Ram,
um post terrivelmente triste numa quadra tão linda, O Natal.
Sinto um nó na garganta e um aperto no peito, seu texto me tocou lá no fundo do meu ser. Pode até pensar que é conversa, mas ainda hoje disse ao meu marido que um dos meus sonhos era poder contribuir para aliviar a dor de alguém. É triste, muito triste sentirmo-nos impotentes, sem condições monetárias para ajudar os que realmente precisam.
Mesmo assim sempre que posso contribuo, e sempre digo, se todos contribuissem o mundo seria menos sofrido.
Beijinhos
Minha querida amiga só uma pessoa com um coração do tamanho do mundo como tu para nos deixares assim inquietos ... lendo-te quase que se antecipa que é a própria autora a personagem central, mas sabendo-te sábia e paciente facilmente se percebe que conheces de perto essa realidade e a combates com as armas de que dispões.
Ainda me lembro do dia, o primeiro, em que vi uma pessoa, nas ruas do Porto, a procurar comida no lixo.
É uma daquelas imagens que se nos cola para sempre.
Hoje, numa altura em que o espectro da pobreza e da miséria paira como um cutelo sobre a cabeça de qualquer um (eis um dos paradoxos deste mundo), lamento imenso que muitos continuem a persistir em negar o que é evidente!
E a recusar estender a mão ao próximo.
As assimetrias sociais, económicas e culturais acabam quando o Homem quiser. Mas ele não quer! Gasta-se tanto dinheiro com a guerra, com a exploração espacial e faz-se tão pouco para acabar com a pobreza e trazer a paz ao mundo.
E era tão fácil! Daí a minha revolta, a minha tristeza,os meus problemas psicológicos. Não fui talhada para viver num mundo assim!
Bem-hajas!
Beijinhos
Bem... eu que nem sou de chorar, saio humildemente, de lágrimas nos olhos...
Tanta família que aborta dessa forma a vida de ostentação que tinha. Mesmo gente de bem, gente digna...
Saio humildemente...
beijo
Como dizia Madre Teresa... Uma gota aqui, outra acolá e vamos enchendo o oceano de amor...
beijos em Cristo e Maria
Não tenho um coração de pedra e ao ler o texto, senti um aperto.
Mas o que pode um só fazer.
Mil juntos, ???
10.000 ou mais?
Arranjar um prato de comida hoje e os restantes trezentos e tal dias ?
Não é uma " esmola", (que por ironia, também pode significar prejuízo), hoje pode manter os necessitados duma nação.
Têm que ser os governantes a implementar medidas que façam com que todos tenham pelo menos uma refeição quente por dia, DURANTE TODO O ANO.
Sou muito crítico com o cinismo desta Quadra.
É um, 365 avos dos dias de fome.
Não é com paliativos mecenas de hipocrisia que se acaba com a fome, já não digo no mundo, mas no nosso país.
Primeiro temos que tentar criar uma base de partida, estável, que nos abalance a tentar atingir todos, mas todos os dias do ano.
Não é assim uma simplicidade.
O desemprego alastra ao ritmo da luxúria que imbecilmente um cartão de crédito concedeu a imbecis ... a pobreza vai aumentar e a fome vai abater-se em locais inimagináveis.
Olhe, Doce e Maravilhosa Amiga:
VOCÊ tem o encanto do Mundo inteiro.
O que li, sensibilizou-me...
Realmente, passamos tempos difíceis sem culpa. Sem culpa nenhuma.
A preciosidade que é, merece todo o carinho, toda a ternura e todo o enternecimento que o seu ser possa receber.
Não! Não estou a contemporizar uma realidade que é evidente a muita gente?
Sabe, admiro-a muito. À sua força de viver, sentir e estar. São extraordinárias.
Vá! Força! Dias melhores virão. Terá a sua simpatia família porque é capaz, a sua felicidade e a magia doce do seu sentir, que é uma preciosidade sua.
Acredite, POR FAVOR em si e no que é. Significa imenso.
Se precisar de alguma coisa estou mesmo aqui ao lado.
Pense em reconstruir passo a passo o que é seu e do seus.
FORÇA! E, FELIZ NATAL, amiguinha doce.
Beijinhos. Muitos.
Sempre a respeitá-la e a estimá-la.
Incrédulo pela sua beleza e pureza...
pena
Bem-Haja, amiguinha e muita FORÇA!
Sou um seu Amigo sincero e sério, sabia?
olá!
Entrei sem pedir licença, e sem licença decidi presentear-te no meu blog, espero que não leves a mal tal desrespeito :-)
Abraço
Via Cristo
http://viacristo.blogspot.com/
Olá Maf_Ram,
tenho em meu blog um desafio para si.
Beijinhos e um boa noite
Passei apenas para espreitar como anda esta causa!
Neste Natal, queria que a pobreza lhes entrasse por todos os orifícios do corpo... por todos os poros da pele.
Talvez que assim tivessem a real percepção do que é a pobreza...
Talvez assim pudessem ainda salvar a sua alma, salvar-se para a vida eterna...
Parábola do rico e de Lázaro - 19«Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e fazia todos os dias esplêndidos banquetes. 20Um pobre, chamado Lázaro, jazia ao seu portão, coberto de chagas. 21Bem desejava ele saciar-se com o que caía da mesa do rico; mas eram os cães que vinham lamber-lhe as chagas. 22Ora, o pobre morreu e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão.
Morreu também o rico e foi sepultado. 23Na morada dos mortos, achando-se em tormentos, ergueu os olhos e viu, de longe, Abraão e também Lázaro no seu seio. 24Então, ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem misericórdia de mim e envia Lázaro para molhar em água a ponta de um dedo e refrescar-me a língua, porque estou atormentado nestas chamas.’ 25Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em vida, enquanto Lázaro recebeu somente males. Agora, ele é consolado, enquanto tu és atormentado. 26Além disso, entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós.’
27O rico insistiu: ‘Peço-te, pai Abraão, que envies Lázaro à casa do meu pai, pois tenho cinco irmãos; 28que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.’ 29Disse-lhe Abraão: ‘Têm Moisés e os Profetas; que os oiçam!’ 30Replicou-lhe ele: ‘Não, pai Abraão; se algum dos mortos for ter com eles, hão-de arrepender-se.’ 31Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés e aos Profetas, tão-pouco se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dentre os mortos.’»
(Lucas 16)
Um Natal cheio de Esperança.
Vim aqui agradecer os votos de Boas Festas e retribuir.
Li este texto e fiquei muito preocupado com a minha amiga.
Espero que a tormenta passe e consiga melhorar a sua vida.
Um beijinho Natalício
Compadre Alentejano
Amigos,
do coração vos agradeço as vossas palavras.
Quis escrever este conto, que retrata realidades bem actuais, com o objectivo de causar algum desassossego...
pois não nos podemos sentir em paz enquanto à nossa volta o mundo de muitas pessoas é cada vez mais negro.
De facto, a pobreza pode chegar a cada um de nós quando menos contamos!
Que se faça NATAL!
Boas Festas a todos vós!
Passei para te desejar a ti, à tua família e a todos os que te são queridos um Santo Natal.
Quanto ao resto, meto férias da nação e do país!
ISTO É RESULTADO DA CRISE FINANCEIRA
TAMBÉM É RESULTADO DESTA VERGONHA NACIONAL E MESMO MUNDIAL, NEM NOS PAÍSES QUE SE DIZEM DO 3º MUNDO; O QUE ESTÁ ACONTECENDO NA BANCA PORTUGUESA!...
- VEJAM O EXEMPLO QUE O BCP ESTÁ A DAR AO PAÍS, EM QUE O BANCO DE PORTUGAL TAMBÉM TEM CULPA:
- CONTINUA A EXTORQUIR E A SAQUEAR DINHEIROS DAS CONTAS DAS VÍTIMAS (CLIENTES) SILENCIADAS E INDEFESAS, DANDO SEGUIMENTO PARA O BANCO DE PORTUGAL COMO SENDO DÍVIDA DE INCUMPRIMENTO (CRC) DO CLIENTE. ASSIM DESTA FORMA O CLIENTE FICA CADASTRADO NO BANCO DE PORTUGAL PARA TODA A SUA VIDA, NÃO PODENDO FAZER QUALQUER MOVIMENTO BANCÁRIO... ENQUANTO OS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS CONTINUAM INTOCÁVEIS E AINDA GOZAM...
bcpcrime.blogspot.com
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