terça-feira, 30 de setembro de 2008

Nada a fazer?!

«Não posso dar-te absolutamente nada.
Trabalho até de noite pelas mães abandonadas, pelos que não têm casa, pelas crianças abandonadas e doentes. Eu também estou doente e não posso mais. Não me queres tu ajudar? Antes de te matares, não queres dar tu uma mão a toda esta gente que espera?»
Diz Abbé Pierre a um jovem que, acabado de sair da prisão, ameaçava suicidar-se pelo desespero de não ter nada. Nem família, nem amigos que lhe dessem a mão. A sua vida não significava nada.

Por vezes pensa-se que se estendeu a mão ao indigente e ele não a quis agarrar, quando se lhe arranjou maneiras de o internar para recuperação do álcool ou da droga, conseguiu-se-lhe um trabalho, fez-se-lhe uma casa, deu-se voltas para lhe obter o Rendimento social de inserção, e ele prefere continuar a pedir esmola e a viver na rua, ou no mundo da droga. E dizemos que é pobre de espírito, que não tem juízo, que tem vícios que já não consegue corrigir, que não há nada a fazer, não vale a pena. E se calhar não é bem assim em todos os casos.

Talvez tenha ouvido tanta vez: “não vales nada, és um drogado, um bêbado, nunca conseguirás ser alguém”, que se terá convencido de que assim é, e que não vale a pena esforçar-se, pois nunca conseguirá mudar nada. Sempre terá quem lhe dê uma esmola, um prato de sopa…
Além disso, quanto mais tempo durar essa vida mais se acomoda a ela e perde o interesse por mudá-la. Deixa de ter a auto-estima necessária à mudança e bastam-lhe as esmolas de qualquer espécie. E nós queremos que ele mude?! Que ele trabalhe?! Para quê, se não tem necessidade disso?! Se não presta para nada, se não tem utilidade nenhuma?!

Primeiro tem que haver uma mudança interior. E quem quer dar uma mão a esta pessoa, tem que ir nesse sentido da mudança interior. De lhe fazer ganhar a consciência da sua necessidade.

Tem que se deixar de ver o pobre como o culpado da sua pobreza. Até porque quem nunca foi pobre nunca terá condições de ajuizar o que isso é.

Ah!
E aquele jovem que se queria matar, afinal não se matou. Deu conta de que ainda podia ser útil a alguém!

6 Comments:

Anónimo said...

É sempre um prazer ler o que por aqui se escreve.
De facto, nada como antes de pedir perguntar se nós próprios não poderemos fazer nada por nós e pelos outros, pois existe sempre algo dentro de nós que nos permite ir mais além!

Unknown said...

Olá Maf_Ram,
Tem toda a razão quando diz que a mudança tem que ser primeiramente interior, e a dificuldade está precisamente aí. Quando a auto estima está tão baixa que já não se deseja mais nada da vida, é necessária a intervenção de pessoal especializado que consiga mudar esse estado de alma.

Quanto a nós, temos o dever de tentar ajudar sempre no que estiver ao nosso ao alcance, mas nem sempre somos bem sucedidos.

Beijinhos

alf said...

Uma coisa que as pessoas que ajudam quem sofre - por falta de dinheiro ou saude - às vezes não têm verdadeira consciência é de como é importante para essas pessoas o apoio de amizade, de «importar-se», de «querer saber» que essas pessoas que ajudam dão.

Diz-se muitas vezes que a saúde é o mais importante. Não é. O mais importante é haver quem nos estenda a mão, quem queira saber de nós.

Já vi pessoas chorarem por terem alta do hospital - preferiam não ter saude e ter quem lhes desse a mão e se interessasse por elas do que ter saúde e não ter ninguém.

Muitas pessoas que ajudam os outros frustram-se por acharem que são impotentes na ajuda que dão. Não é verdade: dão a coisa mais importante de todas, fraternidade.

Unknown said...

Olá,
há no meu cantinho prémios para si.

Beijinhos e um bom fim de semana.

Anónimo said...

Esse é o verdadeiro sentido da vida: estar ao serviço de quem precisa.
Até parece uma coisa difícil, mas não é. A maior parte de nós é capaz de fazer pelos outros (filhos, pais, amigos) coisas que não faria por si mesmo. É só pensar um bocadinho e verão que é verdade. Fazemos tanto mais e tanto melhor quanto mais alimentados pelo combustível chamado amor.

"Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei"

Anónimo said...

Só para dizer que passei por aqui!

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